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"Órgão ambiental aplica rigor em excesso", dizem garimpeiros |
Foram
destruídos cerca de R$ 9 milhões em equipamentos. Segundo a Funai, “ganância
pelo ouro coloca em risco a terra indígena, contamina rios com mercúrio e
desmata a floresta” >>> Agentes do Grupo Especializado de Fiscalização
(GEF) do Ibama realizaram operação de combate a garimpos de ouro na Terra
Indígena (TI) Kayapó, no Pará. Em três dias, com apoio de três aeronaves, foram
destruídas 12 balsas de mergulho, 1 balsa escariante, 12 escavadeiras
hidráulicas, 4 motobombas e 1 caminhão carregado de toras. Os agentes
ambientais também apreenderam em acampamentos de garimpeiros uma arma, uma mira
de precisão para espingarda e aproximadamente 700g de mercúrio. Foram
destruídos cerca de R$ 9 milhões em equipamentos. O balanço foi divulgado nesta
terça-feira (24). Após a operação, garimpeiros e empresários interditaram a
PA-279.
A
extração mineral é proibida em Terras Indígenas. Entre os infratores flagrados
na TI Kayapó estava o presidente da Cooperativa de Garimpeiros de Ourilândia do
Norte, João Costa Guerra. Responsável por uma escavadeira usada para abrir nova
frente de garimpo em área isolada, ele será autuado pelo Ibama, que encaminhará
o relatório de fiscalização e os documentos apreendidos ao Ministério Público
Federal (MPF) e à Polícia Federal (PF) para responsabilização criminal.
“A
ganância pelo ouro coloca em risco a terra indígena, reduto de biodiversidade e
da cultura do povo Kayapó. O garimpo destrói o curso d’água, contamina rios com
mercúrio, desmata a floresta, degrada o solo e provoca a caça de animais
silvestres”, diz o biólogo Roberto Cabral, representante da Fundação Nacional
do Índio (Funai), que coordenou a operação do GEF.
Outras
ações de fiscalização serão realizadas se o monitoramento por satélites
identificar retomada de atividades ilegais na região.
A
inutilização de equipamentos ocorre em caráter excepcional, quando há
constatação de ilícitos especialmente em áreas protegidas como Terras Indígenas
e Unidades de Conservação, em razão da impossibilidade logística para sua
remoção e com o objetivo de impedir a continuidade do dano ambiental.
O
mercúrio usado em garimpos de ouro para separar o mineral contamina cursos
d’água, animais e pessoas. Garimpos ilegais representam uma ameaça à saúde
pública, principalmente em regiões como a amazônica, que têm a pesca como base
de proteína alimentar.
Com
3,28 milhões de hectares, a TI Kayapó abrange os municípios paraenses de Cumaru
do Norte, Bannach, Ourilândia do Norte e São Felix do Xingu.
Em
encontro com representantes do Ibama e da Funai, o cacique da aldeia
Pukararankre, Garapera Kayapó, condenou o garimpo em outras áreas da TI. “Nós,
que moramos no Rio Xingu, mantemos a floresta e o rio preservados. Não queremos
que entre garimpeiro, temos que garantir o nosso futuro.”
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Manifestantes alegam prejuízos e interditam rodovia |
Interdição
- Após a operação, manifestantes interditam nesta terça-feira (24) trecho da
rodovia PA-279, próximo ao município de Ourilândia do Norte, no sul do Pará. O
grupo é formado por garimpeiros e comerciantes que atuam na região formada
pelos municípios de Ourilândia, Tucumã e São Félix do Xingu.
De
acordo com o secretário da Cooperativa dos Garimpeiros de Ourilândia, Bluno
Jefferson Alves, a manifestação interditará a PA-279 até às 18h desta
terça-feira, mas prometem retornar a interdição caso o IBAMA e a Polícia
Federal continuem agindo contra os garimpeiros da região.
“Nosso
movimento é pacífico, diferente da forma truculenta que somos tratados pelo
IBAMA. Porém, caso não haja um diálogo com os órgãos competentes para
discutirmos a nossa situação vamos voltar a realizar interdição da rodovia”
afirmou.
A
rodovia PA-279 é o único meio de ligação entre os municípios de Água Azul do
Norte, Ourilândia, Tucumã e São Félix do Xingu. E é a via de escoamento da
produção de muitas indústrias frigoríficas e da mineração como a da Vale, que
fica em Ourilândia. A região é também uma das maiores produtoras de gado bovino
do Brasil.
(Adécio
Piran/Folha do Progresso)